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Carta Pastoral “Dolor Propter Desiderium” do Papa Bento ao Clero e aos Fiéis

 

CARTA PASTORAL
''DOLOR PROPTER DESIDERIUM''
DE SUA SANTIDADE, O PAPA
BENTO 

AO CLERO E AOS FIÉIS DA SANTA IGREJA DE ROMA

Aos Veneráveis Cardeais e Bispos,
Sacerdotes, Diáconos e Seminaristas 
e ao amado povo de Deus,
 saúde e bênção apostólica!

Existem momentos em nossas vidas pelos quais passamos que embora sejam naturais à vida, é acolhido e digerido em diferentes modos e particularidade por cada ser humano. A dor da saudade, tema desta Carta Pastoral, é para nós com plena convicção o maior momento de provação pelo qual passamos. É triste e doloroso a perda de um ente querido e a sensação de que jamais iremos vê-lo novamente e por vezes nos vemos a pensar em como poderiamos ter feito tudo diferente com um certo sentimento de culpa, fracasso e frustração.


A dor da separação

Para nós católicos a morte é a certeza da vida com Deus, nosso Senhor. Mas para aqueles que ficam e choram a falta e ausência daquele que se foi não é um sentimento tão fácil de ser esquecido. A dor da separação é tão grande que a sensação que temos é de um grande vazio e então percebemos o quão importante era a presença e a participação ativa de nosso ente querido em nossas vidas e em nossas relações pessoais, espirituais e afetivas. A morte ao mesmo tempo que nos faz refletir que neste mundo a nossa passagem é curta nos coloca em uma situação de profunda tristeza pois embora seja natural nós nunca conseguimos acreditar e aceitar de imediato, é algo que requer um grande tempo para alguns e pouco para outros, mas que de fato nunca é esquecido. Memórias, recordações boas são algumas das situações que ficam gravadas em nossa história e em nossos corações.

A convivência com a dor

Embora tenhamos muita fé e muita força para lidar com estas situações naturais da vida no momento em que acontecem, a convivência com a dor e o sentimento de saudades é algo a ser combatido até o últimos dias de nossas vidas. Saber que não mais teremos a convivência diária com alguém que amamos e se foi não é geralmente fácil de se aceitar e a convivência com a dor se torna uma batalha diária pela qual enfrentamos sempre. A tristeza, as saudades, as lágrimas e o sentimento de culpa e arrependimento que nos assolam muitas vezes se tornam recorrentes e não conseguimos lidar com essas sensações de modo que afetam e prejudicam a nossa vida. É necessário nesses momentos que a fé na ressurreição com Cristo prevaleça e que a nossa confiança deve ser depositada na firme certeza do encontro com Deus, nosso Pai. Embora estejamos todos reunidos aqui neste mundo, nós não pertencemos a ele, estamos aqui apenas para cumprir uma missão e um propósito para com Deus.

Todos esses sentimentos que resultam da dor do luto devem se transformar em recordações de momentos bons e felizes junto de nossos entes queridos já falecidos, procurando sempre enxergar as lições, as qualidades, virtudes e dons que todos eles nos proporcionam fazendo com que estas pessoas que amamos e já não se encontram mais próximas de nós sejam verdadeiras inspirações e exemplos a serem seguidos, sobretudo no que diz respeito a fé.

A superação

Por outro lado, a dor da saudade, a dor da separação e a convivência com essa dor nunca serão eternas. Toda dor é passageira, pois Deus faz novas todas as coisas e não permite que seus filhos sofram. A superação é fator importante para todo esse processo de luto. Todavia, não se trata de apenas esquecer tudo que aconteceu. A verdadeira superação se trata de reconhecer que aquele que se foi descansou de todo seu sofrimento e verdadeiramente já se encontra com Deus graças as suas demonstrações de amor, caridade e boas obras neste mundo. Superar esta dor faz com que convivamos com ela transformando-a em bons pensamentos, sentimento de paz consigo mesmo e com toda a situação. De igual modo, a oração e a fé na vida com Deus após a morte devem ser para nós a certeza de que Ele não nos abandona e que nos chama para junto de Si muitas vezes nos poupando de sentimentos e dores maiores. A morte por sua vez não deve ser vista como algo ruim, mas como prêmio e coroa imperecível da glória e da santidade para as quais todos nós somos chamados a vivenciar um dia. Cristo que ressuscitou dos mortos e nos prometeu a graça de estarmos um dia no Paraíso junto de Deus deve ser a fonte da nossa força e do vigor do nosso Espírito para dar continuidade na nossa caminhada, na nossa missão e no nosso propósito neste mundo.

Na confiança d'Aquele que ressuscitou conforto o coração de todos aqueles que perderam seus entes queridos. Identifico-me com a vossa dor e sei o quão forte e intensa ela é, mas exorto-vos a se apegarem com Deus, pois Ele é o sentido de todas as coisas e o motivo da nossa missão nesta terra. Que nunca nos sintamos sozinhos e desamparados, mas que Ele seja o nosso refúgio e fortaleza em todos os momentos de dor e angústia.

Dedicatória

Dedico esta Carta Pastoral à minha avó Ana Lúcia, minha grande inspiração e a pessoa a quem mais amei neste mundo, razão do meu viver e exemplo para a minha vida eternamente. Seja acolhida com muito amor por Deus e Nossa Senhora e que descanse em paz. Espero ansioso para o dia em que nos encontraremos novamente na eternidade. Jamais te esquecerei, te amo para todo o sempre.

Vaticano, aos 03 dias do mês de Julho do Ano Santo da Misericórdia de 2021, primeiro do meu pontificado.

Com profunda dor, em Cristo Jesus;


+ Bento Pp.
Sumo Pontífice